sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Essa não é a Igreja de Deus...

A festa de Nossa Senhora da Penha é uma tradição religiosa e cultural do povo do Crato. Nos últimos dias de agosto até o 1º de setembro de todos os anos, os católicos da região gravitam em torno dos festejos à bendita Mãe de Jesus, Nossa Senhora que também é chamada de Senhora da Penha. Penha é o nome de uma montanha na Espanha, e para elucidar com clareza a história da padroeira do Crato, a enciclopédia portuguesa Wikipédia descreve o seguinte: Existia no norte da Espanha uma serra muito alta e íngreme chamada Penha de França, na província de Salamanca, na qual o Rei Carlos Magno teria lutado contra os mouros.

Por volta de 1434, segundo algumas fontes históricas, no dia 19 de maio, certo monge francês sonhou com uma imagem de Nossa Senhora que estava enterrada no topo de escarpada montanha, cercada de luz e acenando para que ele fosse procurá-la. Em razão de uma guerra entre franceses e muçulmanos, na qual os católicos escondiam suas imagens para não serem destruídas. Simão Vela, assim se chamava o monge, durante cinco anos andou procurando a mencionada serra, até que um dia teve indicação de sua localização e para lá se dirigiu. Após três dias de intensa caminhada, segundo ele próprio, em seus êxtases ouvir sempre a advertência divina: "Simão, vela e não durma!" (pelo que passou a adotar o sobrenome de Vela, como ficou conhecido), escalando penhas íngremes, o monge parou para descansar, quando viu sentada perto dele uma formosa senhora com o filho ao colo que lhe indicou o lugar onde encontraria o que procurava. Auxiliado por alguns pastores da região, conseguiu achar a imagem que avistara em sonho.
Construiu Simão Vela uma tosca ermida nesse local, que logo se tornou célebre pelo grande número de milagres alcançados por intermédio da Senhora da Penha, e mais tarde ali foi construído um dos mais ricos e grandiosos santuários da cristantade.
A imagem comum ao título é a do viajante a cavalo, atacado por uma cobra e salvo por um jacaré (versão brasileira do lagarto). No alto vê-se Nossa Senhora da Penha com o Menino Jesus no braço esquerdo e a mão direita estendida segurando às vezes um cetro. Esta repre-sentação da Virgem Maria é geralmente em pinturas, pois as esculturas mostram somente Maria com o Menino ao colo.
No Brasil o primeiro templo a Senhora da Penha foi erguido em 1558 em Vila Velha Espírito Santo. Em 1667 foi a vez da cidade de São Paulo ter a sua igreja.
Observa-se uma sequencia de milagres e histórias para cada igreja que tem a Senhora da Penha como padroeira, inclusive o Crato, que teve sua imagem trazida pelos franciscanos catequistas para proteger os índios do Cariri que passavam a ser incomodados pelos colonizadores querendo a posse das terras.
Recebida a imagem de Nossa Senhora, que teve o nome da Mãe do Belo Amor, foi colocacada em um nicho a beira o rio. Depois resolveram construir uma capela para a venerada Imagem e foi feita a mudança, mas a história conta que essa imagem, por duas ou mais vezes, voltava a noite para seu nicho original. Até que resolveram construir uma capela nas proximidades do nicho, que ao longo do tempo e seguidas reformas é hoje a Igreja da Sé tendo como padroeira Nossa Senhora da Penha, a mesma Nossa Senhora Mãe do Belo Amor, que teve seu nome mudado para Penha.
O nosso rei do baião Luiz Gonzaga, em homenagem a Nossa Senhora da Penha de São Paulo contou por todos os lugares a canção: Baião da Penha com a seguinte letra:

Demonstrando a minha fé
Vou subir a Penha a pé
Pra fazer uma oração
Vou pedir à padroeira
Numa prece verdadeira
Que proteja o meu baião
Nossa senhora da Penha
Minha voz talvez não tenha
O poder de te exaltar
Mas dê benção padroeira
Pra essa gente brasileira
Que quer paz pra trabalhar
Penha, Penha
Eu vim aqui me ajoelhar
Venha, Venha
Trazer paz para o meu lar


Nos últimos anos a festa de Nossa Senhora da Penha do Crato tem sido foco de muita ostentação. Os párocos têm exagerado, tornando os festejos cheios de glamour e imponência, interditando ruas e praças por dias seguidos. A publicidade tem conotação comercial, demonstrando ambição exacerbada de ganho e lucro. Perdeu a festa de Nossa Senhora da Penha a simplicidade inerente ao povo e também a humildade intrínseca no seio do catolicismo. Com certeza não é essa “beleza de festa” que traz os fiéis de volta, nem esse gosto pelo fausto dá ideia de sentimento pungente de arrependimento pelos pecados cometidos pela ofensa a Deus.
Sou católico, bom católico, por conhecer bem os preceitos da Igreja de São Pedro, e por isso não passo despercebido frente aos exageros inconsequentes e não aceitável pelos espíritos dos católicos atentos.
É possível ter uma ideia da ostentação, pelas dimensões muito além do normal, do ordinário, do razoável, a partir do desejo pelo dinheiro. Este ano de 2011 o pároco quer mais exibição ostentosa na Igreja de Nossa Senhora da Penha, a reposição de toda bancada, luxuosas bancadas, que pela pretensa demonstração de luxo pode até tolher e inibir os fiéis em suas orações na casa de Deus.Em meio ao cerimonial o pároco lembrou o desejo do povo de fazer doações para a Igreja. Uma senhora perguntou como devia fazer para entregar seu óbolo para a Mãe de Deus. Diante dessa pergunta, anunciada pelo padre, logo foi posto em ação os arautos, a tropa da Missão Resgate, com sacolas em punho a cata dos donativos. Essa atitude nos leva a lembrar a sátira do comediante global Chico Anísio quando incorpora a figura Tim Tones, um mestre que após suas eloquências manda seus ajudantes correrem a sacolinha.
Essa não é a Igreja de Deus...

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